quinta-feira, 29 de março de 2012

Dividindo a vida

Então ficou decidido assim meio apressado, meio pressionado. Mas sem pensar muito no assunto para não mudar de idéia. Era uma sexta-feira chuvosa, e horas antes da visita chegar estávamos empurrando móveis, fazendo malas para começarmos a transformar aquele apartamento de dois quartos com uma bela sacada, em um lar. Ainda estamos no processo, afinal faz apenas cinco meses que juntamos nossas escovas de dente, travesseiros, contas a pagar e sonhos, e vou contar que foi difícil, mas tão difícil que quase desistimos. A verdade é que a arte de viver a dois tem tantas camadas, adaptações e descobertas que só os fortes sobrevivem, se me permitem o clichê.

Imaginem um casal onde a garota, uma menina mimada de classe média que não arrumava a própria cama e sempre viveu com empregadas domésticas, e o garoto, um rapaz que já morava sozinho há cinco anos e se virara na sua total independência, resolvem unir suas vidas em um único apartamento, vivendo dos seus salários de recém-formados. Conseguem imaginar? Então vou contar pra vocês o que acontece.

A garota se esforça para aprender a organizar um apartamento, mas não consegue, o garoto se esforça para dividir a sua privacidade, mas isso o deixa irritado. Não estavamos preparados para a novidade, ninguém avisou que seria necessário um esforço, ninguém avisou que amor não basta, não é o suficiente, que no começo sempre falta dinheiro para alguma coisa. Ou compram-se cortinas, ou reforma-se o sofá, ou planeja-se uma viajem, ou tantas outras coisas que serão deixas de lado até subirem ao topo das prioridades.

Com a falta de compasso e de sintonia começaram as brigas. No começo eram pequenas faíscas causadas por atritos, mas que se transformaram numa caldeira de ressentimentos e ofensas. Doía mais o que saia pela boca do que o que entrava pelos ouvidos. Doía ter que admitir que não estávamos preparados, assumir que o impulso foi mais forte que a razão, que talvez devêssemos ter esperado. Não sei. Não sei se tivéssemos esperado não teríamos passado pela mesma situação, isso nunca saberei. O fato é que passamos, e ainda estamos passando, reunindo o que sobrou do furacão e reconstruindo a relação. Tivemos que reaprender a conviver num nível avançado de coexistência. Não está sendo fácil, mas está sendo esclarecedor e nos deixando mais firmes e certos da decisão que tomamos no começo.

Superamos a primeira crise e isto nos deu confiança. Acreditamos na nossa relação, onde “eu e ele” se transforma em nós e tudo vira nosso. Nossa casa, nosso quarto, nossa cama. E como um casal do século 21 as tarefas, deveres e direitos estão misturados, eu limpo e ele também, ele cozinha e eu também, ambos trabalhamos e ambos pagamos as contas. Dividimos a vida, mas não estamos casados, porque casamento é um passo importante e só iremos em frente quando nos sentirmos preparados, mais estáveis e menos ameaçados por nós mesmos. Por enquanto vivemos no test drive.